Muitas vezes a história da Espanha começa a ser contada a partir das tribos celtas e ibéricas que sem dúvida tiveram grande influência sobre ela. Na verdade, se falamos da pré-história, é um tempo quase indefinido, e a história da Espanha em particular começa na Idade Média, pois só então surge como país.
Deve-se levar em conta que o que se sabe sobre as tribos pré-históricas é conhecido a partir dos restos de ferramentas ou decorações que foram encontrados por arqueólogos e estudados milhares de anos depois. Pode parecer chato ver algumas pinturas rupestres, ou ler sobre as ferramentas utilizadas por esta ou aquela tribo, mas é a única coisa que existe, e desses objetos emergem teorias e, a posteriori, conhecimentos.
Neste artigo veremos diferentes movimentos populacionais que passaram pela península.
Os primeiros vestígios da existência humana encontram-se nos terraços fluviais do Manzanares, nas praias próximas de Lisboa e nas orlas do sistema ibérico. São restos de ferramentas de pedra que datam do primeiro período interglacial e mesmo do período pré-glacial. Mas não há muitas informações sobre esses povos, pois os achados são escassos.
Sobre a presença do ser humano na península, há muitas incógnitas. Supõe-se que houve várias tribos que vieram da África, do Saara. A componente africana é bastante forte entre as tribos antigas, dizendo-se que viria a representar os ibéricos..
Os Tartessos
Os escritos orientais (mais antigos) e posteriores gregos e romanos mencionam a cidade mais antiga – Estado do Ocidente, cujo império deveria estar localizado na parte ocidental da Andaluzia. Trata-se de uma cultura avançada, que tinha uma rede de canais ao longo do rio Guadalquivir, uma riqueza de metais, uma mitologia, um sistema social bem marcado, bem como escritos e poemas.
O império que se estendia de Cabo la Nao ao Algarve português tinha o seu centro na cidade, da qual, no entanto, nenhum vestígio foi encontrado. Supõe-se que se situasse nas margens do Guadalquivir, ou na zona de Huelva ou Jerez, mas as menções a este grande império são surpreendentemente escassas.
Os Fenícios
Outros que conseguiram chegar à Península foram os fenícios. Foram eles que, segundo a lenda, seguiram a ordem do oráculo de fundar uma cidade nas Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar) e foram colonizar as terras andaluzas.
Suas duas primeiras expedições falharam cumprir a ordem, mas a terceira fundou a cidade de Gadir – futura Cádiz, cidade onde foi estabelecida a primeira Constituição espanhola em 1812. Esta cidade foi base de expedições mercantis através do Atlântico, um mercado de câmbio com indígenas e centro de pesca. Eles tinham muito comércio com o Império Tartesso. Outras cidades que os fenícios fundaram foram Malaka (hoje Málaga), Abdera (Adra) e Sexi (Almuñécar).
Os Gregos
Os gregos chegaram à ilha a partir do século VIII, embora os vestígios da sua presença apareçam desde antes. Os primeiros gregos não se estabeleceram na área: foi uma fase de exploração. Interessaram-se pelo comércio de estanho que prosperava no sudoeste da Península, mas a concorrência púnica levou-os a começar a instalar-se na zona mediterrânica. A colonização grega foi precária, eles não conseguiram se estabelecer por muito tempo. Eles fundaram algumas cidades, uma das quais era Emporion, que significa "mercado". Hoje a cidade se chama Ampurias e fica na região da Catalunha.
Foceia
O povo de Foceia, cidade localizada na costa da Ásia Menor, também iniciou sua expansão. Depois de ver as terras da Itália ocupadas pelos gregos, eles avançaram para a Península e colonizaram a área da atual Málaga. O poder sobre o estreito era dos púnicos, razão pela qual os de Foceia tinham que negociar com a cidade de Tartes por via terrestre.
Na zona cantábrica, de Navarra à Galiza, algumas localidades serranas ofereciam uma certa homogeneidade cultural, caracterizada por um grande primitivismo e costumes ferozes. Mas a fragmentação dos grupos humanos era extrema, e cada um dos povos dividiu-se em uma infinidade de divisões e subdivisões.
Estas são algumas das cidades que mais marcaram presença na península. O processo de formação dos povos hispânicos foi lento e complexo. A contribuição africana e os parentescos orientais dão-lhes um certo matiz diferencial em relação a outros povos europeus: mas os elementos indo-europeus são abundantes e decisivos.
Após a chegada dos celtas, a península ficou praticamente dividida em duas partes: os celtas ocuparam todo o norte e noroeste, o que promoveu o domínio do elemento indo-europeu. A outra zona (Sul e Este) teria predominantemente a componente africana oriental, que terá dado origem às tribos ibéricas. De qualquer forma, é difícil falar em homogeneidade mesmo em um território pequeno, devido à segregação dos mesmos grupos mencionados.
Os Celtas
Os celtas eram tribos germânicas indo-européias que invadiram a península por volta dos séculos VII e VI. Dominavam a metalurgia do ferro e andavam a cavalo, viviam nos chamados castros, que representavam vilas e casas redondas, por vezes muradas. Eles eram supostamente redondos porque os celtas adoravam o sol. Eram principalmente fazendeiros e pastores. Sua organização era tribal, seminômade e não desenvolveram a escrita.
Os Ibéricos
Os ibéricos, por sua vez, eram um povo pré-indoeuropeu, cuja origem é difícil de rastrear. Eles se espalharam por toda a área levantina. Eles foram organizados nas cidades muradas, que tinham uma forma retangular. A sociedade era governada por uma aristocracia guerreira em sua maioria. Dedicavam-se ao cultivo de cereais, azeitonas, grão-de-bico e lentilhas, bem como à exploração mineira, ourivesaria, artesanato e têxteis.
Eles adoravam figuras de animais, cujas esculturas foram encontradas em abundância. Os ibéricos lutavam muito entre si, por isso eram tribos guerreiras, mas também graças aos contatos com outras culturas que habitavam aquelas zonas, tornaram-se bons artistas, o que o confirma a Dama de Elche, Dama de Baza, Dama de Ibiza ou a Bicha de Balazote. Eles desenvolveram a escrita e, dentre todas as tribos ibéricas, foram encontrados três tipos dela.
Os fenícios e os gregos tiveram sua influência sobre os ibéricos: os primeiros ensinaram aos ibéricos sistemas agrícolas avançados, como irrigação, indústria metalúrgica e navegação. Os gregos os ensinaram a fazer moedas. Mas principalmente os ibéricos são conhecidos por sua arte. A arte ibérica teve seu apogeu entre os séculos III e II aC, mas as evidências descobertas datam do século V aC. É uma arte provinciana de caráter indígena, mas que tentou se adaptar às formas artísticas clássicas. Esculturas e cerâmicas são abundantes.
Tradução: Letícia Goulart
FONTES
2. Zernova, E.S. Lecciones de la Universidad de San Petersburgo, 2015.
3. “Historia de España (edades antigua y media)”, Pedro Ribera.
Comments