Pode parecer sem sentido em alguns países falar em igualdade hoje em dia, no entanto, somente em lugares onde ela foi alcançada. Infelizmente não é a situação mundial e ainda podemos encontrar mulheres vivendo à sombra de alguém (de homens, de um governo, de uma cultura patriarcal, de uma guerra, leis ultrapassadas, etc).
O Primeiro Computador Digital Eletrônico Programável.
“Um dos maiores segredos da guerra – uma máquina surpreendente que aplica velocidades eletrônicas pela primeira vez a tarefas matemáticas até então muito difíceis de resolver – foi anunciado esta noite pelo Departamento de Guerra”, relatou o New York Times em 14 de setembro de 1946.
A matéria citava dois nomes como os principais responsáveis pela conquista — Dr. John William Maulchy e J. Presper Eckert Jr. — e também mencionava que muitos outros na escola ajudaram.
Escondidos pelo pronome e desconhecidos pela imprensa, estavam os nomes de 6 mulheres, que foram descobertos décadas depois pela cientista Kathryn Kleiman: Frances “Betty” Holberton, Kathleen “Kay” McNulty, Marlyn Wescoff, Ruth Lichterman, Frances “Fran ” Bilas e Jean Jenningsz.
Quem fotografou a criação do ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) não mencionou nas descrições das fotos os nomes das mulheres que aparecem constantemente nelas. O contrato de construção foi assinado em 5 de junho de 1943; o trabalho para a criação do computador começou em segredo na Moore School of Electrical Engineering na Universidade da Pensilvânia.
O que sabemos hoje, graças às pesquisas de Kleiman, é que os militares dos EUA recrutaram mais de 100 mulheres qualificadas para projetar as tabelas de cálculo para o lançamento de canhões de guerra, já que a maioria dos homens estavam na linha de frente.
A Primeira Mulher a Ganhar Um Prêmio Nobel
A única pessoa a ser premiada em dois campos científicos diferentes nasceu com o nome de Maria Salomea Sklodowska em Varsóvia. Os pais de Maria eram ambos professores de escola que tiveram 5 filhos. Os professores na Polônia ganhavam pouco dinheiro, mas especialmente muito pouco se fossem contra o Império Russo, então a família Sklodowska era muito pobre.
Sua mãe faleceu quando Maria tinha 10 anos. Apesar da dor, ela teve que se virar e encontrar um emprego, então ela se tornou governanta de famílias ricas e ensinou crianças a ler e escrever.
Naquela época, as mulheres não tinham permissão para estudar nas universidades polonesas. Ela e sua irmã Bronisława então se envolveram com a Flying University (Universidade Volante), uma instituição educacional clandestina que desafiava as autoridades russas, admitia mulheres e ganhou esse nome porque tinha que continuar em movimento para que os russos não a encontrassem.
No final de 1891, aos 24 anos, Maria se juntou a sua irmã mais velha, Bronislawa, que havia se mudado para Paris com o marido, e matriculou-se na Universidade de Paris, conhecida mundialmente como Sorbonne. Em 1895 ela casou-se com o físico francês Pierre Curie e se tornou Marie Curie. Após grandes pesquisas guiadas por ela, o casal recebeu o Prêmio Nobel de Física junto com Antoine Henri Becquerel.
Madame Curie nunca perdeu suas raízes. Ela nomeou o primeiro elemento químico que descobriu "polônio", em homenagem ao seu país natal. Ela pretendia voltar para seu país de origem, mas foi negada uma vaga na Universidade de Cracóvia por causa do sexismo na academia.
Após o nascimento de sua primeira filha, Marie começou a lecionar na Escola Normal Superior. Marie Curie também teve um papel muito importante como educadora. Além de lecionar em Paris, ela também lecionou em uma universidade ilegal, frequentada principalmente por mulheres que eram proibidas de seguir seus cursos regularmente, dando a muitas mulheres da época a oportunidade de adquirir conhecimento.
Em 26 de dezembro de 1898, o casal Curie anunciou a existência de um segundo elemento, que chamaram de "rádio", da palavra latina para "raio". No decorrer de suas pesquisas, eles também cunharam a palavra "radioatividade".
Em junho de 1903, supervisionada por Gabriel Lippmann, Marie obteve seu doutorado na Universidade de Paris. Naquele mês, o casal foi convidado a um evento da Royal Institution em Londres para fazer um discurso sobre radioatividade, mas ela foi impedida de falar por ser mulher, então Pierre Curie apresentou o discurso sozinho.
Em dezembro de 1903, o comitê da Real Academia Sueca de Ciências pretendia homenagear apenas Pierre Curie e Henri Becquerel em reconhecimento aos serviços prestados por suas pesquisas conjuntas sobre o fenômeno da radiação, embora Marie tenha liderado todos os experimentos realizados pelo trio e escrito todas as descobertas, encontradas por ela mesma. Felizmente, um membro do comitê e defensor das mulheres cientistas, o matemático sueco Magnus Gösta Mittag-Leffler, alertou Pierre sobre a situação e, após sua reclamação, o nome de Marie foi adicionado à nomeação.
Mais tarde, superada a oposição, a mesma instituição a homenageou pela segunda vez, com o Prêmio Nobel de Química de 1911, pela conquista em isolar o elemento rádio.
Sob a direção de Marie, foram conduzidos os primeiros estudos do mundo sobre o tratamento de neoplasias pelo uso de isótopos radioativos. Ela fundou o Instituto Curie em Paris em 1920, e o o mesmo em Varsóvia em 1932; ambos continuam sendo grandes centros de pesquisa médica. Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie desenvolveu unidades móveis de radiografia para fornecer serviços de raios-X a hospitais nos campos de batalha.
Em 1995, ela se tornou a primeira mulher a ser sepultada por seus próprios méritos no Panteão de Paris, e a Polônia declarou 2011 o Ano de Marie Curie durante o Ano Internacional da Química.
O Efeito Matilda
São inúmeros os relatos de trabalhos magníficos realizados por mulheres, mas assinados por seus maridos, assim como aconteceu com Marie Curie.
Freud - A Mente do Moralista é um livro aclamado de contribuição permanentemente valiosa para as ciências humanas que aborda o contexto histórico e cultural da psicanálise de Freud. O livro rendeu reconhecimento a Philip Rieff, ainda que sua esposa na época em que o escreveu, Susan Sontag, tenha sido responsável pela maior parte do conteúdo produzido (Benjamin Moser, Sontag: Her Life and Work Hardcover, 2019).
Isso aconteceu com tanta frequência porque as descobertas relatadas pelo nome de um homem seriam levadas mais a sério na comunidade científica, artística ou linguística. Um fenômeno ligado ao gênero parece existir e foi chamado de 'Efeito Matilda', em homenagem à sufragista e crítica feminista americana Matilda Joslyn Gage.
Referências:
* https://zap.aeiou.pt/historia-matematicas-primeiro-supercomputador-523663
* Marie Curie: A Life From Beginning to End (Biographies of Women in History), Hourly History
* https://www.stylist.co.uk/people/matilda-effect-what-is-it-erasure-achievements-by-women-susan-sontag-hidden-women/267412
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